quarta-feira, 29 de julho de 2009

Direito à preguiça

A leitura do Direito à preguiça, de Paul Lafargue, embora refirindo-se ao século XIX e à revolução industrial, soou extremamente atual, trazendo-me lembranças da amável Tramontina e da venerável Irwin, dois importantes parques industriais barbosenses ultramodernos.

Impressiona (não sei se deveria ou não) o fato dessas empresas, assim como todas as outras, apresentarem alguns caracteres muito semelhantes aos descritos no Direito à preguiça, mesmo depois de mais de um século. No caso específico do espaço industrial, do espaço onde se inserem os chamados "operários", os problemas perduram, tendo sido apenas travestidos com novas cores. O que chama a atenção é a compactuação dos próprios "explorados", que nesse contexto assumem as dores do "explorador", caindo sempre na mesma e inevitável falácia do "infelizmente é assim". Depois que algum líder ou chefe de seção atíra a pérola do "infelizmente é assim", os demais subalternos, em geral, complementam em coro com o refrão "vai fazer o que!" (talvez isso explique a moda de chamar os empregados de colaboradores). Ocasionalmente, algumas pessoas seguem a antiga jornada de quatorze horas diárias, sob o pretexto (legítimo) das contas a pagar. Só fazendo "serão"... Realmente muita coisa mudou. Lafargue que o diga.

Hoje o operário honesto e descente precisa dispor de dinheiro suficiente não só para sobreviver, mas também para consumir (consumir o que for possível, pois "infelizmente é assim, fazer o que!"), de preferência consumindo as inutilidades que a tecnologia renova a cada dia. Além disso, deve sobrar alguns trocados para uma diversão ilusória e para a também ilusória sensação de que poderá ascender socialmente, caso se disponha a economizar as migalhas e a trabalhar cada vez mais, apezar da concretização do "sonho" de Aristóteles (citado por Lafargue), que hoje o capitalismo transforma em piada.

Mesmo assim, o direito à preguiça é uma leitura interessante para todos os curiosos de plantão, operários que têm a impressão de que algo está errado, militantes ou simpatizantes de esquerda, ateus imorais e pervertidos, e desocupados em geral. Para ler a obra na íntegra clique aqui. E lembre-se: não deixe a mamãe saber que você lê essas coisas...



Um comentário:

Perturbe a ordem. Comente!