segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Festiqueijo 2011 - eu estive lá

Não adianta. Creio que nada mudará minha opinião sobre essa festa (a menos que mudarem o nome dela para Festiporre ou algo parecido).

Falar de todo o resto é mais do mesmo

Por mais que os organizadores tenham se empenhado em trazer novidades, em acrescentar algo novo à festa, nada mudou em essência. E é uma pena que seja aplicado tanto empenho e tanta dedicação num festival como esse, que pretende ser uma coisa, mas na verdade é outra..
Tudo bem, tenho que admitir: milhares de pessoas vêm a Carlos Barbosa no Festiqueijo. E isso pode ser bom.
Milhares de pessoas desembarcam dos ônibus em frente ao calçadão, entram no Salão Paroquial pela porta da frente e saem pela porta dos fundos, onde o ônibus que as levará de volta está esperando. Algumas passam pelo Varejão e pela Feira da ACI. As poucas pessoas que circulam além do calçadão são aquelas que se perderam e não conseguiram achar a saída da cidade. O que essas pessoas realmente conheceram de Carlos Barbosa? O Salão Paroquial? O Varejo da Tramontina? O nome da Rainha?
Bom... isso deve ser o bastante. E o pessoal da feira da ACI deve ter um incremento nas vendas (do contrário não estariam lá). Isso é bom. Mas o preço que se paga...
O preço que se paga” a que me refiro não é só o valor monetário. É o preço de se criar uma cultura de fantasmas. De mitos. De celebração do nada.
Pessoas vivem me dizendo que o Festiqueijo traz visibilidade à cidade. Pode até ser (assim como a porra do Motocross). Mas a pergunta que eu sempre faço é: quanta? Quanta visibilidade? Números... mas não somente o número do público pagante e de garrafas consumidas. Quero o número de quantas pessoas realmente investiram em Carlos Barbosa por causa do Festiqueijo. Quero saber quanto essas pessoas realmente investiram. Quantos investidores o Motocross e o Festiqueijo nos troxeram? Quais? Quem são? Quanta renda geraram? Quantos empregos? Quais benefícios? Onde? Por quanto tempo? Se não é posível gerar ao menos alguns dados estatísticos sobre isso, também não é possível tratar a festa como uma religião e acreditar cegamente que ela trará benefícios que não podem ser mensurados. Em contra partida, posso assegurar que existem números bem concretos sobre os resultados que um município obtém ao compactuar com uma “cultura de festa e álcool” como temos em Barbosa. Os Bombeiros Voluntários que o digam. Só eles sabem quantos jovens são conduzidos ao hospital semanalmente beirando o coma-alcoólico. Achamos engraçado.

Gostaria de saber o que realmente fica na memória dos visitantes, além da lembrança de um porre homérico e da foto com a vaquinha

Eu fico indignado! Tenho, no Facebook, amigos de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Porto Alegre, da p*ta que o pariu, enfim. Estes amigos tem muitos outros e (quem conhece o facebook sabe do que estou falando) é possível acompanhar os diálogos e os comentários de muita gente que esteve aqui – mas só vejo fotos de (1) gente bêbada, (2) gente comentando sobre a ressaca fenomenal que está enfrentando, (3) gente falando em voltar no ano que vem para “encher a cara de novo” e (4) surpresa: gente dizendo que não gostou. Não vi ninguém elogiando a gastronomia (eles elogiam o fato de poder comer à vontade). Não vi ninguém elogiando os vinhos (elogia-se o fato de beber à vontade).
Portanto: Dedustação de vinhos no Festiqueijo – mito. Um que outro apreciador de vinhos até poderá haver. Mas estive lá no dia 30 e não vi gente fina degustando vinhos. Vi gente fina alterada pelo álcool, isso sim. Aliás, Carlos Barbosa produz vinho?... Deixa pra lá...
Degustar queijos - mito. Eu gosto de queijos. Fui ao Festiqueijo e não consegui degustar merda nenhuma. Não havia a menor condição. Deslocar-se de um estande a outro era uma verdadeira epopeia.
Gastronomia: bom, se você chama  coxa de galinha, pastel de queijo, pizza e polentinha com queijo de gastronomia, e roda 1200 Km até Carlos Barbosa para sentir o prazer de apreciar essas iguarias... tudo bem.
Saí de lá com a roupa imunda. Perdi a conta de quantas pessoas derramaram bebida na minha camisa – não por o salão estar lotado, mas por já terem perdido os reflexos necessários para andar em linha reta segurando um copo.

Hipocrisia tem limites

Passei três semanas ouvindo aquele discursinho idealista de que nossa festa é um festival gastronômico, uma festa para a família, uma festa para conhecer a cultura local, para encontrar velhos amigos, para fazer novos amigos, etc. Não vi nada disso. Encontrei dois amigos, conheci alguns que poderão ser amigos no futuro (mas isso também dá pra fazer na zona). A única coisa que consegui fazer em paz foi tomar o cafezinho perto da porta da saída. Lá estava tranquilo (leia-se: lá ninguém caia em cima de mim). E o café estava bom.
Não sou puritano. Não tenho nada contra, swing, orgias, bacanais e eventual uso de determinadas substâncias entorpecentes... Mas me revolto com essa aura de glória com que se costuma cobrir esse festival que, na verdade, não passa de uma festa a Baco impulsionada por certo instinto de manada e algum possível oportunismo.
Se mudarem o nome do festival para Festiporre, então tudo bem. Se tiver que tirar os sapatos e as roupas antes de entrar, melhor ainda. Todos pelados bebendo pra valer e fazendo tudo aquilo que a sociedade normalmente não permite num evento barbosense chamado Festiporre. Pelos menos seria algo mais sincero.
Se você leu até aqui talvez goste do texto sobre o Festiqueijo 2010. Ele ainda se aplica a esse de 2011 e aposto minhas unhas dos pés que ele se manterá atual por um bom tempo.



4 comentários:

  1. Cede, tu só te enganas aqui: "Se não é posível gerar ao menos alguns dados estatísticos sobre isso, também não é possível tratar a festa como uma religião e acreditar cegamente que ela trará benefícios que não podem ser mensurados."
    É justamente por isso que fazem dela uma religião. Assim como a religião não pode apresentar nada decente para sustentá-la, a não ser o sublime argumento da fé, a festa também não. Resta, portanto, mitificá-la, pra ninguém ver que é um bacanalzinho de quinta.

    De resto, muito bom, muito irritado e inspirado.

    Ab,
    A

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  2. Sim... nem percebi o engano.
    Ia corrigir, mas deixa assim. Teu comentário já faz a errata.

    Valeu.
    (daqui uns dias vou ter alguma coisa decente pra escrever aqui)

    Abrç.

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  3. hahahaha!
    Cara, que situação. Pessoalmente não achava que fosse nesse nível. Talvez tenhamos mesmo a cultura do não-turismo. (Caxias do Sul que o diga!)

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  4. Temos que comer muita polenta ainda. Tem gente que acha que é só ter frio, neve e uns bichinhos enfeitando a cidade que o turismo se fará sozinho. Ledo engano.

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