quinta-feira, 12 de julho de 2012

Dionísio, insuficiência hepática e Festiqueijo

(Esse texto trata de assuntos locais)
Visite Carlos Barbosa e confira o Festiqueijo 2012 (mas, por gentileza, evite regurgitar nas vias públicas)

Andam dizendo que falo mal de nossa festa-mor, o Festiqueijo, por causa de um ou outro texto que você pode conferir aqui e aqui, mas, na verdade, apenas desclassifico, a meu modo, essa nossa mania de trocar os nomes das coisas. Repito que não há nada de errado com dionisíacos e bacanais, desde que sejam chamados de dionisíacos e bacanais. Não tente chamar de festa familiar uma encenação de orgia. Não tente chamar de degustação uma beberragem. E tudo estará bem.

O nome que damos às coisas é, ainda, mais importante que a coisa em si. Duvida? Repare que as palavras, todas elas, são carregadas de magia. No mito da criação, Deus criou as coisas através das palavras. Através de semelhante processo mágico nós também criamos e modificamos muitas coisas.

Se andar trôpego na praça da matriz (devido ao abuso de álcool no fim de semana) é tido como uma afronta aos bons costumes, o mesmo é permitido e legitimado através da instituição festiva denominada Festiqueijo. Ou seja: criamos um tempo e um espaço para o exagero.

Estou exagerando? Talvez. O fato é que olhamos com nojo para aquele mendigo que dorme no banco da rodoviária abraçado a uma garrafa de cachaça, mas, no dia seguinte, nos divertimos vendo nossos pares sendo carregados para a ambulância que presta serviços de "reposição de glicose" aos fundos do Salão Paroquial, próximo ao portão de saída do Festiqueijo (por falar nisso, fico me perguntado quantos adolescentes são atendidos dessa forma, à margem do sistema, depois de um porre no Festiqueijo. Tomara que eu esteja enganado quanto a isso...). Em suma, muito do que não é moralmente aceito na maior parte do ano e na maioria dos espaços públicos ou privados, tem a possibilidade de ser temporariamente permitido durante esse tempo festivo, nesse espaço específico.

Várias vezes me disseram que "frango é frango e palmito é palmito" nessa questão de relacionar o uso do álcool com uma festa local. De fato, não dá para generalizar (obviamente). Eu nunca saí da festa de ambulância, tampouco a maioria dos que conheço saíram. Mas não há nada mais divertido do que sentar-se ali por perto e contar quantas vezes a ambulância sobe e desce fazendo o trajeto salão-hospital-salão nos dias mais movimentados da festa. É hilário.

E, é claro, é culpa das pessoas que exageram (dizem), não da festa. Ok. Mas ainda prefiro entender que não é uma questão de "achar culpados" (de novo o moralismo). Prefiro entender que isso é obra de Baco, de Dionísio, que, como divindades que são, reconhecem uma homenagem quando veem uma e nos dão a honra de sua presença. Mas nós, por outro lado, não somos bons anfitriões, uma vez que não reconhecemos publicamente nossos principais convidados. Ainda nos escondemos atrás de inocentes vaquinhas coloridas que, se por um lado enfeitam a cidade, por outro mostram o quanto somos infantis quando o assunto é assumir que as coisas que gostamos são as mesmas que condenamos nos outros.


Em resumo: o Festiqueijo não é um sucesso por causa da "alta" gastronomia que oferece, mas por proporcionar um tempo e um espaço para o exagero.

Visite o Festiqueijo (se puder, porque isso aqui não é pra qualquer um) e divirta-se!

Se beber (sic), não dirija...







Um comentário:

  1. Essas festas citadinas nos enchem de orgulho. Etilicamente, isso é o que importa...(parece) hehe!

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