Ponto
de virada pode ser qualquer coisa que marque uma mudança importante
no rumo da vida ou na maneira como a vemos (ou as duas coisas
juntas). Geometricamente falando, o ponto de virada (ou guinada)
sugere que a mudança de direção ou do olhar se dê em qualquer
ângulo, de uma simples correção de trajetória a um “meia volta,
volver” seco e inesperado.
De
certo modo, o início deste blog em 2009 se deu sob uma espécie de
ponto de virada. Auge da faculdade de Letras, descoberta de autores e
ideias inimaginavelmente insanos (lê-se fodas) para mim à época e,
mais, de colegas e amigos, pessoas, gentes de carne e osso e cérebro,
e de almas assustadoramente livres com as quais eu jamais havia
topado nesse meio-de-mato bairrista e maniqueísta que, em linhas
gerais, era (e É, salvo exceções) a Barbos Carcosa dos anos 2000.
A
maioria dos textos (os de opinião, ao menos) seguiam um ritmo
frenético, violento, de ironias e sarcasmos feitos propositalmente
para ferir (por que não?) alguns baluartes do conservadorismo e
deleitar meus ¾ de dúzia de fiéis leitores de então. Houve quem
visse humor naqueles textos, mas provavelmente era só um tipo
diferente de desespero.
Mas,
buenas, tanto faz... Isso foi lá por 2009. Depois o ritmo acalmou,
os assuntos não me tocavam mais e a ascensão do YouTube acabou por
esvaziar de vez o pouco de gente que havia produzindo conteúdo no
blogger e no wordpress. Sobraram somente os perfis mais
profissionais e todo o resto caiu no mais insólito abandono da noite
para o dia. Hoje resta somente um ou outro maluco que ainda alimenta
seus blogs, escondidos lá nas profundezas da web, onde há tempos o
Google perdeu o interesse em buscar o que quer que haja lá embaixo.
Perdemos para a bolha da Internet. Você nunca mais vai encontrar
algo interessante por acaso.
A
“blogosfera” virou o reduto dos introvertidos (e egocêntricos
também, vá lá) enquanto extrovertidos (e também egocêntricos, vá
lá 2) pavoneiam-se no YouTube. E há gênios e idiotas nos dois
times, acredite. O leitor que decida onde me encaixar.
Mas
ainda não chegamos no ponto de virada.
O
ponto é a resposta para a seguinte pergunta: por que diabos você
vai voltar a falar sozinho nesse blog depois de mais de três anos de
abandono? E a resposta é: eu não faço ideia. Ou, para ser mais
bonito, podemos citar Renato Russo: “Alguma coisa aconteceu, do
ventre nasce um novo coraçãããooooooo... Não penso em me
vingar... blá, blá, blá...” (vocês gostam de citações, né?).
Talvez
tenha a ver com a Casa dos espíritos, de Isabel Allende, que eu li
há alguns meses. Talvez a ideia de escrever para leitores-fantasmas
(como Clara fazia em seus “cadernos de anotar a vida”) tenha
ficado no meu inconsciente, e vindo à tona com essa questão toda do
golpe pelo qual estamos passando. Porque, sim, tenho quase certeza
que ninguém vai acompanhar esse blog, exceto fantasmas.
A
vantagem de escrever, (e, sobretudo, escrever para
fantasmas) em vez de se expressar pelo YouTube, é que você pode
desnudar sua alma com muito mais tranquilidade. Veja bem: até aqui
foram 2987 caracteres distribuídos em 518 palavras, e posso afirmar
com certa segurança que é possível confiar minimamente
em quem dedicou seu tempo para
ler tudo isso. E quem escreve por amor simplesmente confia
em quem lê quase 3000 caracteres numa madrugada de sábado,
sobretudo nesses líquidos anos 10 do profeta Bauman, de apelos
visuais extremos e glórias instantâneas. Em outras palavras: vá
desnudar sua alma no YouTube, depois me conte como foi.
Talvez
essa seja a graça da coisa: se você ler 50% do que um autor
qualquer escreve, você provavelmente o conhece melhor do que sua
própria mãe! Se você ler 100% do que ele escreve, vai conhecê-lo
melhor do que ele mesmo! Agora perceba: as coisas ficam terrivelmente
mais interessantes quando seus leitores são fantasmas!
Então,
para meus queridos gasparzinhos, as coisas vão funcionar assim:
voltaremos a alimentar o blog. Entretanto, deste ponto em diante,
ficarão de fora os textos de opinião. Volta e meia teremos alguma
resenha de livro, filme ou o diabo, além de groselhas e tranqueiras,
e os versos, reversos e remorsos que meus demônios julgarem
importante deixar registrado em algum lugar mais nobre do que portas
de banheiros.
Do
lado de cá da web vamos tentar fazer melhor, porque desse ponto em
diante É SÓ LADEIRA ABAIXO, amigos! E se você, querido
leitor-fantasma, me encontrar na rua e tiver lido ao menos 50% do que
eu deixei aqui, por favor, me conte quem eu sou!
Muito bem! Adorei o texto! Espero que não tarde a escrever novamente! Abraços gasparzinicos
ResponderExcluirObrigado, querido(a) anônimo(a)!
ExcluirObrigado, querido(a) anônimo(a)! A casa é sua. Assombre à vontade!
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