sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz 2011!

Ufa! Consegui passar o Natal controlando a minha boca, a minha pena e o meu toca-discos. Não falei mal do Papai -Noel, não escrevi alfinetando a publicidade bagaceira que só sobrevive graças ao Natal e o disco dos Garotos Podres não violentou nenhum cedezinho de canções natalinas. Não sei se sobreviveria a um mesmo nível de sacrifícios no reveillon.
Fato é que, com minha boca, meus logins e meus alto-falantes artificialmente acalmados, as pessoas voltaram a querer minha amizade. Deve ser a magia do Natal. "Só pode", diria o José. Os presentes ajudam: com mais dinheiro para gastar as pessoas tendem a ser mais amáveis e a fazer mais amigos. Eu mesmo consegui dezenas de abraços, favores e caronas investindo não mais do que R$ 50,00 em presentes. Utilizei até mesmo a palavra "abençoado". Creia. (Não sei se já falei sobre a arte de ser gente , mas algo me diz que os atores são mais felizes, ao menos enquanto atuam).

Continuando a minha tragédia: em 2011 quero atualizar o ELETROFALO semanalmente. Ele terá também mais imagens e vídeos. Em 2011 farei uma tatuagem e cuidarei da minha rinite com mais amor. Em 2011comerei mais fígado suíno, menos chocolate e mais alface. 

Em 2011 farei amigos e influenciarei pessoas. 

Em 2011 comprarei mais artesanato indígena. 

Dois mil e onze será um ano bom porque todo o ano novo é bom, embora ninguém saiba o porquê. É mais ou menos como Deus. Ele existe e é bom. Ponto.

***

Passar um tempo me policiando para tentar atender às expectativas alheias foi uma experiência agradável (não só para mim), mas devo confessar que passar um ano inteiro fazendo isso deve ser muito frustrante. Por isso, foda-se. Já passou o Natal, 2010 já era e eu não sou bem assim. Agora que esse torpor coletivo está quase acabando podemos voltar à normalidade. À realidade (seja lá o que ela for). A realidade em que as pessoas fazem cocô, bestemam, e perdem o ônibus. A realidade em que as pessoas se agridem e a praça central é suja e sem graça. A realidade em que os DVD's não funcionam como deveriam e a ejaculação precoce volta a ser permitida. A realidade do Fantástico e do Faustão sem mirabolâncias natalinas e sem protetor solar. A realidade em que novamente passaremos doze meses gestando e esperando pelo parto de mais um novo ano, com a boa e velha resignação e mediocridade de sempre.

Feliz 2011!


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Papagaiando notícias...



 

O 'abestado' no Congresso

Fontes da Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo e do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo são unânimes: Tiririca vai sair incólume de denúncia sobre seu suposto analfabetismo. O palhaço foi o candidato a deputado federal mais votado do país, com 1,3 milhão de eleitores.

Nesta segunda-feira, o juiz eleitoral Aloísio Sérgio Rezende Silveira aceitou uma denúncia do Ministério Público Eleitoral que acusa Tiririca de ter falsificado o documento que apresentou para demonstrar que não é analfabeto, uma exigência aos candidatos sem comprovação de escolaridade.

O grande trunfo do palhaço é o fato de o registro da candidatura dele ter sido deferido pela Justiça Eleitoral. Além disso, Tiririca é amparado por fundamento constitucional. Ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo, ainda que seja judicialmente intimado. 

Há uma outra dificuldade. Tiririca está no Ceará, ou seja, teria de ser notificado pela Justiça cearense a pedido da Justiça paulista. E há um outro porém: ele será diplomado no dia 16 ou 17 de dezembro, e a partir de então será considerado deputado federal. O que significa que a competência para investigá-lo, seja no âmbito criminal, seja no âmbito civil, passa a ser de competência exclusiva do STF. É a chamada prerrogativa por foro ou função, de qual gozam os parlamentares. Em suma: Pior não fica. Só melhora. Para ele. 

Por Guilherme Vieira Prestes

terça-feira, 28 de setembro de 2010

E se eu morresse amanhã?

E se eu perdesse minha conta do Google amanhã?


Se eu perdesse minha senha, meu blog ficaria com o "obsceno" (lá no título) escrito errado. Durante milênios meu erro ficaria exposto ao bullying (ou à então ultraviolência) de incontáveis gerações e, lá no além, meu analista (possivelmente o Diabo) teria todo o tempo do universo para ouvir minhas lamentações. No final de cada consulta, o Cão, num assomo de curiosidade sádica, perguntaria se aquela vírgula também não estaria errada. Eu explicaria que não, que isso, que aquilo...

E assim eu passaria a eternidade, até o momento em que todas as galáxias voltassem a se comprimir num único ponto sem dimensões dando origem a um novo  Big-Bang, a um novo e estranho universo.

Epílogo

Depois de treze bilhões de anos a partir dessa nova expansão do universo, os ocultistas de então terão a estranha certeza de que há uma palavra fundamental. Uma palavra que, de alguma forma, sobrevive a cada nova criação do universo (apesar dos erros ortográficos). Uma palavra que não pode ser conhecida. Eles a chamarão de "palavra de Deus", ou simplesmente "Verbo", embora estando conscientes de que tal palavra não tem qualquer relação com Deus. Os iniciados nas artes ocultas desse novo mundo saberão que, se essa palavra fosse descoberta e pronunciada, por algum motivo o universo interromperia o seu ciclo eterno de expansões e contrações. O universo se anularia instantaneamente. Brahma pararia de respirar. - Ainda bem que eu não perdi a minha conta do Google!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Trevo de acesso - milagres da arte e da engenharia

O novíssimo trevo de acesso de Carlos Barbosa é, sem sombra de dúvida, a fusão perfeita entre a matemática e a poesia. Uma verdadeira obra de arte. Tentarei em breve postar fotos ou vídeos para que o leitor possa ter uma ideia mais clara das formas e características de tal prodígio da engenharia.

Claro que não sou engenheiro, por isso, não sou exatamente a pessoa mais qualificada para falar dos detalhes técnicos do trevo. Entretanto, minha experiência como motorista e usuário do Trevo me dá certa liberdade para avaliar alguns aspectos dessa refinada obra de engenharia (sim, agora existe um Trevo com letra maiúscula - apesar de não se tratar exatamente de um trevo...). Como um reles motorista (de carrinho popular antigo, mas tudo bem...) não pude deixar de me impressionar com a segurança que o novo Trevo de Acesso a Carlos Barbosa oferece aos turistas e usuários em geral. Todo o trajeto percorrido é iluminado  e sinalizado de forma perfeita, de modo que, mesmo à noite e com neblina, o usuário tem a mais absoluta certeza de estar dirigindo com segurança. Segurança total! Qualquer pessoa, mesmo semi-analfabeta, não terá quaisquer dificuldades para saber qual caminho tomar. O Caminhoneiro não terá qualquer dificuldade em encontrar os caminhos que levam às indústrias. O Turista jamais ficará em dúvida sobre como chegar ao Festiqueijo, ou à Maria-Fumaça, ou a qualquer um dos nossos incontáveis e indescritíveis pontos turísticos. Não há o menor desperdício de espaço ou de tempo, pois o trevo foi desenhado para oferecer o mais alto nível de excelência em logística. Cada palmo foi exaustivamente planejado para que o usuário pudesse sempre fazer o percurso mais curto, mais econômico e ecologicamente correto.

A tecnologia presente nessa obra é espetacular. Além do aparato de sinalização e iluminação  ultra moderno (que é controlado por quatro super-computafores NEC  SX-9), o trevo ainda conta com uma tecnologia  capaz de assumir o controle do carro assim que o usuário se aproxima da cidade, conduzindo o automóvel para onde o passageiro pretende ir. Por enquanto poucos carros estão equipados para usufruir dessa tecnologia, o que obriga os motoristas a utilizarem o trevo da maneira clássica (com as mãos no volante). Foi pensando no futuro que essa tecnologia foi introduzida, uma vez que, depois da duplicação da RS-470 (por volta de 2097) em conjunto com os progressos econômicos fomentados pelo governo de Aynda Cruzes, o carro pilotado pela rodovia será uma realidade em toda a República Sul-Riograndense.

Mas foi a sensibilidade artística do projetista do trevo o que mais me impressionou. Isso não é uma simples obra de engenharia rodoviária. É uma Obra de Arte. Um Poema Rodoivário. Eu pude sentir isso na primeira vez em que transitei por ele. E ainda sinto. É poesia pura. Não se explica poesia, mas vou tentar explicar essa obra de arte. 

Primeiro devemos lembrar que o engenheiro (digo, poeta) teve o impulso artístico de (re)criar a realidade na mente do motorista-leitor-espectador que por ali passa, através dos recursos semióticos disponíveis, porque, para o poeta, a vida não basta.  É só olharmos o exemplo do final do trevo (no sentido São Vendelino - Garibaldi). Nesse ponto, a pista estreita-se repentinamente, fazendo surgir diante do motorista-leitor-espectador uma linda, frágil e delicada... ponte. Essa ponte (poeticamente falando) nos diz algo sobre a fugacidade da vida, sobre a brevitude de nossa existência sobre o mundo. Numa hora estamos vivendo e, de repente, a vida cessa, e estamos nós a cruzar a ponte, a navegar com o Barqueiro Sombrio rumo ao além...

Se o motorista-leitor-espectador optar por visitar a estação da Maria-Fumaça (não aquela no Centro, mas aquela ali no Triângulo) o Poema Rodoviário o levará para um sinuoso e difícil acesso à direita. Ao transitar por esse acesso é impossível não lembrar da saga dos Imigrantes, pois o caminho estreito, a curva acentuada, a sensação de medo, o perigo,  a desorientação, tudo nos faz lembrar dos heroicos tempos da colonização italiana, das dificuldades da viagem para o Brasil, do trabalho árduo, das incansáveis horas de labuta para construir o mundo que Deus sonhou.

Depois, inevitavelmente, o turista (para sair da cidade e voltar para casa) é obrigado a passar pela rótula da Tramontina Cutelaria. Lá ele verá máquinas, empilhadeiras e caminhões circulando e transportando nossas riquezas. Com sorte poderá ver um ou outro Trabalhador na sua incansável luta para fugir da miséria moral que assombra o resto do Brasil. O turista terá a oportunidade de, novamente, refletir sobre o incansável labutar da nossa gente na construção de uma sociedade mais justa e mais humana.

Nos dias de neblina, transitar pelo Poema Rodoviário fará o motorista-leitor-espectador sentir-se literalmente no início da Criação. A escuridão total, o andar sem ver nada em frente  (apesar da total segurança) remete aos idos tempos bíblicos, quando só existia a escuridão e o Verbo. Então o Verbo diz: Faça-se a luz!! E eis que surgem, altivos e iluminados, a Torre, o Trabalhador de Aço e o outdoor da ACBF - maravilhas do progresso - tudo remetendo ao grande ato criador de Deus, o grande Supervisor, que criou o Homem, a mais bela, perfeita e trabalhadora das criaturas. O Homem, que deu nome aos animais. Que invetou o salame, a brítola e os talheres... Que inventou a mulher e o fumo de corda. Enfim, o Homem, que inventou a Arte para ver a si mesmo também como um Deus...

Explicar uma obra de arte é esvaziá-la, distorcê-la. Por isso vou encerrar minhas elocurbações acerca do nosso maior ponto turístico, o Trevo. Eis o Trevo, simplesmente. 

O futuro é nosso!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Festiqueijo: vale cada centavo!

Para quem não conhece, o Festiqueijo é uma espécie de orgia alcoólica que acontece no salão paroquial de Carlos Barbosa todos os anos. É nossa festa maior, o maior festival gastronômico, etc, etc... Você puxa a carteira, saca uns cinquenta reais, pega o ingresso e entra. Depois você ganha uma tacinha para degustar vinhos (leia-se: encher a cara) e um garfinho para espetar os queijos (ou traseiro das meninas, conforme você estiver mais ou menos bêbado). Você passa o tempo inteiro circulando de estande em estande, enchendo o saco das meninas que estão trabalhando, rindo alto, degustando vinhos, queijos, salames e outras coisas estranhas que fariam o seu cardiologista chorar. Tudo isso ao som de música típica e rodeado de gente bonita e inteligente. 


Há quem ache o valor do ingresso um tanto amargo, mas se pararmos para pensar, onde poderíamos comer pastel, coxa de galinha e polenta frita (à maneira dos nossos ancestrais, de pé e sem o inconveniente dos talheres) por menos de cinquenta reais? E crostoli? Em que bar é possível encher o cu de trago pagando somente a entrada? Onde poderíamos ouvir a canção La bella polenta interpretada por quatorze bandas diferentes? Qual pizzaria da cidade oferece pizza de microondas por menos de cinquenta reais? Em que restaurante existe uma equipe de limpeza sorridente que vem correndo, pedindo desculpas e com-licenças para limpar a sujeira que alguém fez de propósito? E o melhor de tudo (para os solteiros): onde encontraríamos maior concentração de mulheres embriagadas por metro quadrado, prontinhas para serem encoxadas em meio a multidão?

Nosso festival é um verdadeiro banquete romano, onde a elite desfila sua glória e destila suas amarguras oriundas do incansável labor diário que enriquece e enobrece nossa gente. Nosso festival permite que nossa gastronomia seja apreciada em seu último estágio evolutivo, espalhada nas esquinas da cidade, porque ela é nobre demais para permanecer nos estômagos dos visitantes. Caminhe pelas calçadas e verá, a cada vinte metros, uma refeição que se recusou a sair de Carlos Barbosa. Nada pode ser mais gratificante para um cidadão do que o reconhecimento de sua gente e a valorização dos seus costumes!

É por esses e outros motivos que sou, sem dúvida alguma, um verdadeiro fã do Festiqueijo. No ano que vem podem cobrar R$ 200,00. Não é caro. Vale cada centavo. Em 2011 traga sua família, prepare seu tubo digestório e seu fígado, e venha viver momentos inesquecíveis!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Uma imagem vale mais que mil palavras...

 
Imagem: Jornal Contexto, 20/02/2010

Que fique claro: não estou acusando nenhum jornal e nenhum dos seus profissionais de atitude preconceituosa. Apenas estou utilizando a ilustração para fazer uma reflexão. Faço essa observação porque, como sabemos, não existe preconceito no Brasil.

Ocorre que, dia desses, li um artigo que falava sobre a enorme quantidade de peças publicitárias mostrando pessoas brancas num país que, segundo dados do IBGE, já é composto majoritariamente por negros e mestiços. Quando se fala em publicidade, entende-se que o público deve se identificar com as imagens, se eu não estiver enganado (que algum profissional da área me ilumine, ou não durmo essa noite). Enfim, o artigo falava das peças publicitárias, da esmagadora presença de brancos nas novelas da Rede Bobo (que são assistidas por uma maioria negra) e coisas assim. Ocorreu-me (deixando de lado as novelas) que na nossa região, negros e mestiços são, de fato, minoria. Somos predominantemente descendentes de imigrantes italianos, alemães, poloneses e blá, blá, blá (como nos vêm ensinando desde a terceira série). Portanto, nada mais lógico do que olhar para aqueles outdoors na 25 de setembro e deparar-se com a imagem da branquíssima modelo da propaganda de roupas íntimas e com a foto da bela equipe de atendentes das Lojas Lebes, cujos traços não deixam dúvidas: são barbosenses.

E a imagem do jornal? Simples: era preciso uma imagem para ilustrar a manchete, e o ilustrador é livre para desenhar o que quiser. Isso não quer dizer que ele seja preconceituoso (eu acho). Eu gosto de imaginar coisas: Talvez alguém tenha advertido, antes da publicação: "mas será que não terá algum xarope que vai achar racismo nisso aí?", e outro: "só se for um daqueles malucos que defendem as cotas nas universidades...", e mais outro: "má  che, má donde que questo é racismo, Madonna de Dio! Cuida que se tu desenhá um gringo ele vai te processá também há há, há, há...". E no fim, a imagem saiu, e mostra um negro, atrás das grades, aplicando um golpe pelo celular numa inocente mulher de olhos azuis.

Recentemente, uma professora iluminada disse que "ninguém é preconceituoso de propósito, porque ninguém é ignorante de propósito". Devemos ficar atentos, não para levantar o dedo e apontar: fulano é racista; mas para levantar a voz contra atitudes que paulatinamente vão construindo uma representação falsa da realidade. Atitudes que "criam" a própria realidade, o imaginário coletivo. Se as imagens não tivessem o poder de criar, na mente de quem as vê, determinada ideia ou conceito, toda forma de propaganda se resumiria em duas ou três palavras em Times New Roman, e não precisaríamos de outdoors imundos ou dos comerciais idiotas das Casas Bahia. Tampouco precisaríamos de ilustrações nas áginas dos jornais.

Sobre preconceito, Guacira Lopes Louro, no livro Um corpo estranho, diz que uma imagem pode não ser, necessariamente, preconceituosa; mas pode estar afiando as facas da intolerância. Hum... isso dá o que pensar.




segunda-feira, 12 de julho de 2010

Como parecer rico em Carlos Barbosa - dicas e truques

Depois de ler alguns parágrafos de alguns livros sobre "como atender bem os clientes" resolvi acreditar que também posso escrever um desses tratados e ficar rico. O público, claro, poderá preferir entender que se trata de uma brincadeira. Entretanto, reza a lenda que toda a brincadeira tem um fundo de seriedade. Não sei, mas segue um esboço do tratado. Ficaria mais ou menos assim:

Como parecer rico em Carlos Barbosa - dicas e truques:

Utilize o carro para absolutamente tudo o que for fazer fora de sua casa. Mesmo que o carro seja do seu pai, que o combustível seja pago pelo pai, assim como o seguro, o imposto e o DVD novinho que você acabou de instalar. Vá de carro, mesmo que seja para ir à padaria que está a vinte metros.

Quando for à padaria, nunca compre somente o pão. Saia do estabelecimento com, no mínimo três sacolas. E lembre-se de deixar algumas compras aparecendo por cima da sacola. Isso é chique. Jamais compre seus pãezinhos em estabelecimentos que forneçam sacolas feias.

Se não puder estacionar exatamente em frente à porta do estabelecimento, abandone o carro no meio da rua com o pisca-alerta ligado. Quanto mais caro for seu automóvel, maior o efeito produzido.

Jamais saia da vídeo-locadora com menos de oito filmes, mesmo que você só tenha tempo para assistir a um. Se houver uma fila razoável, lembre-se de pedir para a atendente um Godard. Mesmo que você não entenda porra nenhuma dos filmes dele, diga que você o ama.

Nos restaurantes, procure falar alto e gesticular bastante (certifique-se de não haver comida nos talheres antes de gesticular). Procure falar mal de quem está presente. Na hora de pagar a conta repita o valor anunciado de modo que todos saibam o quanto você gastou. Procure pagar com notas de cem ou cinquenta reais. Jamais saque da carteira notas de cinco ou dez reais (isso é coisa de boteco).

Evite que as pessoas o vejam comprando carteiras ou cintos daqueles vendedores ambulantes que vivem em frente à Santa Clara.

Economize uma grana durante o ano para ir ao Festiqueijo. Depois, fale mal do evento até não aguentar mais e, no ano seguinte, vá novamente.

Jamais viaje de ônibus (exceto se você for um aluno da UCS ou da Unissinos).

Assine a revista Veja e utilize os argumentos cientificamente comprovados da revista para falar mal do Lula. Somente do Lula. Se o presidente já for outra pessoa, continue falando mal do Lula.

Vá ao cabeleireiro toda a semana. Cabeleireiros que cobram menos do que R$ 25,00 para fazer qualquer coizinha são, na verdade, barbeiros. Barbeiro é coisa de velho pobre e aposentado. Evite.

Se você trabalha no escritório da Tramontina, lembre-se sempre de dar uma volta no Café Brasil depois do expediente, mas vá com aquela camisetinha azul-claro com a logomarca da empresa no peito (aquela que você está usando para trabalhar desde segunda-feira). Isso dá muito status, mesmo que você ganhe menos que muito peão da produção.

Lembre-se de ir ao café portando, além do uniforme, o crachá. Mas utilize-o pendurado no pescoço com uma fitinha azul. Prendê-lo no bolsinho da camisa com aquele prendedorzinho é coisa de plebeu.

Quando for às compras, leve consigo o seu filhinho e deixe-o colocar no carrinho tudo o que ele quiser. Se você não puder pagar, retire as coisas do carrinho sem que a criança perceba e abandone-as em qualquer prateleira.

Troque a cozinha de sua casa, no mínimo, a cada dois anos. E quando o fizer, coloque trocentas fotos da sua novíssima cozinha no Orkut.

Sorria sempre. Mesmo sem ter vontade. O sorriso forçado é até mais charmoso e mais fotogênico. Se você tiver que optar entre a cirurgia de hemorroidas e o clareamento dental, opte pelo segundo. Afinal, não passamos de um tubo digestivo com um cérebro numa extremidade e uma cueca na outra. Cuide melhor da extremidade que as pessoas veem e que comporta o cérebro.

Enfim, poderíamos escrever dúzias de páginas sobre cada item, sobretudo esse último (do tubo digestivo), por isso acho que poderíamos escrever um ótimo tratado. Umas duzentas páginas com gráficos e ilustrações. Seria um sucesso na feira do livro e no supermercado. Certamente iria contribuir para tornar as pessoas mais felizes.







quinta-feira, 8 de julho de 2010

Momento quase literário...

Tanto faz as foto-fatos nos jornais,
revistas, reality sows, fazendas e
Cabanas da vida...
No Mundo, um Crepúsculo são gritos histéricos
num cinema adolescente...
No Mundo, um Guerreiro da Luz liga um projetor...
E As Violetas continuam na Janela 
- Sentinelas

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Desafios da Igreja para o novo milênio

Se você ainda não ouviu as pérolas do arcebispo de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, veja aqui. Há também vídeos no YouTube, mas dá muita raiva. Talvez ler seja melhor do que ver. O estômago do leitor irá decidir.

Indo direto ao ponto: como pode Dom Dadeus, uma pessoa "culta" e "letrada", fazer afirmações tão absurdas? Ele diz que a "liberalização" da sexualidade gera desvios de comportamento, mas esquece de especificar quais são esses desvios. Parece que ele se refere à pedofilia (que ele mistura com homossexualismo, revelando a sua ignorância sobre o assunto); mas, para nós, que observamos a Igreja pelo lado de fora, parece que "desvios de comportamento" refere-se aos comportamentos que a Igreja impôs (e impõe) ao longo dos séculos, e não dos comportamentos naturais do ser humano. Na verdade, um dos papéis mais recentes da Igreja foi o da institucionalização do sexo. Ela quer institucionalizar as relações e a reprodução. É isso que nos ensinam na escola, na catequese e em casa (pelos pais, através de uma ferramenta cristã que se chama "poder familiar"). Para fazer sexo (e consequentemente, filhos), é preciso casar-se. Passar pelo crivo da Igreja. Estar inscrito em seus livros de registros. Depois de tudo isso, é permitido o casamento, o sexo, a procriação, etc. (preferencialmente nessa ordem).

Podemos imaginar que isso não acontece, que tudo é muito "liberal", que a juventude faz o que bem entende e ninguém ouve a Igreja. Entretanto, a forma como os jovens vivenciam a sexualidade é uma reação, em parte, ao poder do discurso da Igreja. Desde a mais tenra idade é inculcado nas crianças, de uma forma ou outra, as ideias distorcidas da Igreja sobre a sexualidade humana. A ideia de um deus invisível, que vigia e pune (ou recompensa) por cada ato praticado (ou não) vem tentando desenhar uma "moral" baseada na autorrepressão e na culpa. Note que esse discurso nem sempre é explícito. Não é exclusividade da Igreja, mas de uma ampla parcela da sociedade. Enquanto isso, a Biologia do ser humano real trabalha. Aos quinze anos, tudo o que um menino quer é experienciar o sexo, aquilo de que tanto se fala na TV, na escola, em casa e na Igreja. A mídia (que não perde nenhum nicho de mercado) atende a essa demanda produzindo e vendendo um sexo idealizado, indolor e inconsequente a um público que tem o sexo como algo moralmente inacessível. É esse sexo idealizado que o adolescente busca, justamente porque o sexo nas suas formas "reais" é, ainda, socialmente reprimido.

Muitos pais, ao perceberem (conscientemente ou não) que foram "engambelados" pela Igreja, e que passaram metade de suas vidas culpando-se por crimes que não cometeram, agora tratam de "dar" a seus filhos uma educação exatamente oposta àquela que receberam. Liberalismo total. São os extremos interagindo?... É só uma impressão minha...

Um dos desafios da Igreja para este milênio é, justamente, controlar essa "liberalização" da sexualidade. Mal sabe ela que suas próprias doutrinas são responsáveis por boa parte do que Dom Dadeus chama de "liberalização". Numa passagem mais polêmica da declaração do arcebispo de Porto Alegre, ele faz a seguinte afirmação: "Antigamente não se falava do homossexual. E [o homossexual] era discriminado. Quando começaram, ‘olha, eles têm direitos de se manifestar publicamente'... daqui a pouco eles vão achar os direitos dos pedófilos" (Portal G1 - 05/05/2010). Só faltou dizer que hoje deveria haver mais discriminação.

Isso deveria dirimir quaisquer dúvidas que restassem quanto a Igreja ser uma instituição, no mínimo, preconceituosa (há quem prefira outros adjetivos...), burra (porque mistura "opção" ou "orientação sexual" com patologias, e acima de tudo, desumana. Uma instituição que nega a sexualidade humana, muitas vezes manifestadamente presente em seu próprio seio, pode ser humana? Uma instituição que tenta a todo custo criminalizar o uso de preservativos (que em certos lugares é o único recurso disponível na luta contra a AIDS) pode ser humana? Uma instituição que orienta seus seguidores a acreditarem que a "verdadeira" vida vem somente depois da morte, pode ser humana? Realmente, a Igreja não é uma instituição humana. É Divina!






terça-feira, 6 de abril de 2010

Ah, sim, a mídia...


A cada quatro anos a grande mídia coloca as garras de fora e revela como funciona sua "imparcialidade" e seu “compromisso” com a informação. Essa afirmação já é lugar-comum na blogosfera. Entretanto, nos esquecemos que pequenos jornais ou rádios em pequenas cidades do interior tendem a fazer igual ou pior.

A notícia pura, o acesso aos fatos e às informações (de forma clara e imparcial) a crítica consciente e a responsabilidade de ser um “formador de opinião” parecem não existir. No mundo moderno, "globalizado", a notícia tornou-se um produto a ser vendido no supermercado, junto com margarina, gilete, sabão em pó e xampu. Daí o fato de termos um time de quinta categoria, com datenas e casoys da vida, sensacionalistas berrões e pseudointelectuais enchendo os jornais e telejornais com os seus produtos, da mesma forma que um vendedor de eletrodomésticos anuncia as ofertas do dia na porta de uma loja.

De tempos em tempos deixam de vender o seu peixe (com ou sem sangue) para pegar uma bandeira e fazer campanha, ou melhor, fazer a campanha do patrão, como nos idos(?) tempos do voto de cabresto. Parafraseando Lula, os patrões (dos jornalistas) fazem mais censura do que qualquer governo poderia sonhar em fazer. Reúnem-se para decidir o que deve ser veiculado e de que maneira. Como bons colonizados que somos, fingimos que isso é mentira, mania de perseguição, esquerdismo ou coisas assim.

Esse mal também atinge, como já foi dito, pequenos jornais interioranos. Aqui pela serra gaúcha, jornais criticaram, por exemplo, a luta dos professores e acusaram o CPERS de estar usando os professores para “manobras políticas contra o atual governo do estado”. Ora, todo movimento sindical é também um movimento político, e esse jornalismo de boteco quer, pelo visto, reinventar o sindicalismo, esvaziando-o dessa característica. Esse mesmo jornalismo é capaz de apresentar alguns políticos de forma gramaticalmente correta e educada, enquanto chama outros pelo título pejorativo de “figurões”. Não é preciso estudar “análise do discurso” para perceber o quanto esses folhetins são tendenciosos, quando não são burros, muitas vezes ferindo princípios básicos do jornalismo (que podemos aprender em casa, sem curso superior) como o de ouvir todas as partes e tratá-las de forma imparcial.

Os principais colunistas (no auge de suas “ameaçadas” liberdades de expressão), com raras exceções, são de chorar. As crônicas abrangem desde o saudosismo desesperado até o reacionismo prolixo. Aguns textos são desprovidos de qualquer senso de coesão e clareza (elementos tão caros nas redações de vestibular) ao mesmo tempo em que criticam o desempenho dos professores, numa hipocrisia de dar dó. Todas elas tendem a repetir a ideologia expressa nos grandes jornais ou revistas, até mesmo quando tratam de assuntos ou casos locais. Quando notícia passa a ser mercadoria, o resultado é esse. Ninguém quer vender no seu mercadinho um produto que seja desconhecido, ou fora de moda (seja lá o que isso quer dizer). Corre-se o risco de ser tachado de incompetente, atrasado, antiquado, caloteiro, enfim, corre-se o risco de perder uma fatia do mercado.

Ao contrário do que diz o nosso alquimista da lixeratura, Paulo Coelho, o guerreiro não está só. Então, não adianta trocar Rede Globo por Rede Record, nem trocar um jornal de circulação estadual por um mais "bairrista". Cada vez mais, os meios de comunicação como jornais, rádios e TVs estão se transformando num veículo exclusivo da indústria da publicidade e do entretenimeto. Seria um equívoco esperar deles qualquer coisa além disso, embora eles se autoproclamem detentores da verdade e salvadores da Democracia, quando na verdade, não passam de uma ferramenta usada por uma elite social para a manutenção do status quo.

OBS.: Apesar de tudo, sempre é bom ter um jornal por perto, principalmente agora, no outono, para acender um fogo, colocar no chão do carro ou usar no banheiro (resolvendo as palavras-cruzadas, obviamente).

quinta-feira, 11 de março de 2010

Oscar: um desserviço à humanidade


Podem me criticar, pois estou apedrejando o vencedor do Oscar, Guerra ao Terror, sem tê-lo assistido. Baseei-me apenas no trailer disponível no YouTube. O correto não seria assistir ao filme para depois criticá-lo? Talvez não, porque “merda a gente identifica pelo cheiro”. Diferente de um copo de vinho, não é preciso perder tempo levando-a à boca para saber do que se trata.

Num trailer de menos de dois minutos, tudo o que vimos não foi mais do que um grupo de soldados (norte-americanos, como sempre) dedicando suas vidas à nobre tarefa de desarmar bombas plantadas por terroristas malvados. Só isso. Essa é a ótica maniqueísta e infantil do vencedor do Oscar. Para mim, não passa de mais um filminho, em que, mais uma vez, os americanos salvam o dia. Nenhuma palavra sobre o porquê dos atentados, tampouco sobre o porquê daquele trabalho. Nada sobre o antes ou o depois. Dramas, motivações... nada. Só a adrenalina (ou o sono, dependendo do espectador) provocado pelas explosões e algum sentimentalismo piegas com relação às famílias dos soldados que esperam o retorno dos heróis. Nada mais do que isso. E não falo só do trailer, mas de toda a publicidade do filme, que segue a mesma linha, o que leva a crer que, de fato, o filme não passa disso.

A imprensa local taxou Avatar (que é somente uma história sobre colonização) de infantil, inocente e simplista. Houve até quem o adjetivou de moralista e ecologista. Paciência. É verdade que Avatar é só efeitos especiais (diversão rápida e fácil para um sábado à noite), e que também não mereceria nenhum prêmio relevante; mas ao menos me fez lembrar, por incrível que pareça, do “descobrimento do Brasil”, com todos os interesses portugueses estuprando os então habitantes locais. Apesar do final-feliz-e-bobo de sempre, Avatar não foi tão fantasioso como parece. Mas o que me intriga é o seguinte: será que essa Ode ao Imperialismo chamada de Guerra ao Terror será jogada no mesmo saco de “filmes de fim-de-semana” em que colocaram Avatar? Alguém vai acusar esse documentário de ser simplista e de não ter “profundidade”? Existe algo mais clichê do que a velha receita do mocinho-e-bandido inventada nos Estados Unidos e reafirmada a cada filme?

Poucos irão reclamar desse filme, pois todos gostam do que gosta o Rei. Todos assistem ao que o Rei assiste. E o Rei recomendou formalmente, através do Oscar, Guerra ao Terror, enquanto que por aqui (e pelo resto do mundo) esquecemos que um filme bom não precisa de um orçamento milionário, nem de toneladas de efeitos especiais, e, menos ainda, do Oscar. Quando esse filme cansar de faturar nos cinemas, vai passar gratuitamente na “Sessão da Tarde”, concluíndo assim o seu ciclo e a sua tarefa de colonizar, cada vez mais, o nosso pensamento, apesar das hipotéticas boas intensões.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Entre zeros e uns


Não é novidade que a tecnologia superou a pretensiosa missão de suprir necessidades para passar a criá-las. Computadores poderosos, câmeras digitais, TV digital, televisor de plasma (com a maravilhosa tecnologia capaz de achatar as imagens), cinema digital, música digital (com a incrível função que impede o ouvinte de diferenciar a voz humana de um violino), enfim, tudo digital. Temos relacionamentos digitais, virtuais. Com eles aprendemos a ter medo de olhar nos olhos de uma pessoa de “carne e osso”. Desaprendemos a falar e a conversar. Viver é simplesmente consumir.

Consumimos para suprir necessidades irreais, inventadas. Produzimos e consumimos lixo tecnológico. Vamos de carro à academia para andar numa esteira elétrica. Mandamos “torpedos” de feliz aniversário para o amigo do apartamento ao lado. Trocamos nosso telefone por um melhor (?) a cada ano. Trocamos nosso MP3 pelo MP4, 5, 6, 10. Pagamos para estacionar o carro numa via pública. Acreditamos que fazemos escolhas e que somos livres. No entanto, passamos a vida insatisfeitos.

Conseguimos rir da mulher embriagada que gritou “devolve o meu chip”. Reality Shows (que não têm nada de 'reais') massificam pensamentos e comportamentos. Mas somos livres, somos habitantes de um mundo onde zeros e uns produzem um ilusionismo comercial disfarçado de ovelhinha. Compramos aparelhos de ginástica tão criativos quanto inúteis, roupas que encolhem a barriga, seios postiços, detectores de mentira, caneta espiã, turismo espacial, fuscas, ferraris, fantasias sexuais, dentes brancos e perfeitos, perfumes, pomadas para tudo. Oh, o homem progride! Estamos indo em direção ao super-homem nietzchiano e não me avisaram! A realidade é mesmo uma ficção? Pergunta um desatento.

De qualquer maneira, essa minha descrição do mundo é equivocada e enfadonha. Percebi isso ao receber a notícia de que Tessalia e Michel, do BBB 10, fizeram sexo debaixo do edredon. Clique em qualquer lugar e assista ao vídeo. Vale a pena, pois deve ser a primeira vez na história da humanidade que pessoas praticam o coito debaixo de um cobertor. Aproveite sua liberdade e direito de alienar-se. E bom divertimento!