quinta-feira, 24 de março de 2011

Ser ou parecer? Uma questão moderna

Parecer é ser. Sobretudo em tempos de modernidades virtuais, exageros vãos e ignorância exacerbada. Se pensarmos, então, na ditadura da imagem, não há o que dizer. Eu não sei exatamente o que sou (e não considero que alguém o saiba) mas posso saber exatamente o que pareço ou quero parecer ser. Posso manipular essa aparente aparência (ops!) a meu favor. Posso parecer interessado naquilo que te interessa. Posso parecer não gostar daquilo que você não gosta. E você jamais saberá a verdade. Talvez ninguém sequer queira saber a verdade. Ou talvez, ainda, as pessoas fujam da verdade, com medo de encontrá-la e verem seus mundinhos afundarem no mar sólido e sórdido da realidade. (O fantasma de Narciso está assombrando os meus textos outra vez...)

Dia desses um amigo de uma dessas redes sociais (que deveriam se chamar "redes antissociais") reparou na minha foto do perfil do usuário (a mesma foto que ilustra o meu perfil nesse blogue, onde eu apareço num ambiente surrealista portando uma cuia de chimarrão e mordendo a bomba) e a considerou inadequada para a minha pessoa, ou melhor, para o meu "papel social". Tenho certeza de que ele não foi o primeiro a considerar tal absurdo, mas foi o primeiro a comentar isso comigo.

Acontece que meu trabalho é o meu trabalho e Facebook é Facebook. E, ainda, eu sou eu, e sou (ou pelo menos me considero) anterior e superior aos meus papéis e aos sistemas em que esses papéis se inserem, sejam eles família, escola, trabalho ou redes sociais. Eu estou no controle e decido até onde quero levar esse joguinho de aparências. É fato que usamos diversas máscaras de acordo com diversas situações: ou você faz isso (cumpre as expectativas do sistema em que está inserido no momento), ou você é expurgado. Mas repare no detalhe: expectativas do sistema em que se está no momento. Eu não sou o meu trabalho, até porque (que me perdoem os teóricos sociais que eu ousei ler até agora) hipocrisia tem limites. Ou seja: eu uso a imagem que eu quiser no meu perfil, seja eu gari ou presidente da república (o que eu jamais seria, a menos que eu mudasse de opinião), e que frustrem-se as pessoas que esperavam ver outra coisa. Não estou aqui para atender às parcas expectativas de meia dúzia de néscios ou de quem quer que seja que esperava ver o sua própria fuça no MEU perfil de usuário.

Hipocrisia tem limites. Uma coisa é agir (ou não) de acordo com as convensões tácitas de um determinado sistema. Outra coisa é se emocionar com isso ao ponto de tornar-se uma prostituta do olhar alheio (com o devido respeito à categoria). Se você é um bombeiro, por exemplo, você é um bombeiro. O "parecer" é posterior, flexível e questionável. Há pessoas que parecem ser feitas de ouro (porque as regras de um determinado sistema diz que elas devem se comportar como tal), mas na verdade são feitas de fezes. E a fezes disso tudo, é que isso é o "normal". É assim que funciona. No grosso desse mundão você não precisa ser nada, contanto que pareça.

Bem aventurados os que parecem, porque, em verdade vos digo: deles será o reino da Terra.

Isso tudo, junto com a cerveja que estou bebendo agora (ops, eu não deveria ingerir álcool, dizem meus algozes!), me faz chegar à óbvia conclusão de que parecer é o mesmo que ser. Obama é o exemplo máximo dessa teoria. Mas eu, particularmente, prefiro que me caiam as bolas a ter que "parecer" assim ou assado só porque a lua está cheia ou minguante. Não tenho estômago para esse joguinho de abraços e sorrisos. Sou naturalmente antipático e minha simpatia se limita ao necessário para criar um bom ambiente. Ao estritamente necessário.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Dia da mulher (olhando a coisa por outro lado)

Deixando de ser hipócrita por alguns segundos e mostrando o outro lado da moeda:




Detalhe sórdido: a mulher acima é tratada na maioria dos sites não pelo nome, mas pela alcunha de Ex-Ronaldinha.
Aos hipotéticos observadores de outros mundos: apreciamos tais cenas, ainda, contando com a complacência de muitas (muitas) mulheres, mesmo há mais de um século das primeiras "conquistas femininas". Ou seja: o caminho é mais longo...
 
Clichê por clichê, vamos à citação: Simone de Beauvoir: "não se nasce mulher: torna-se". Só que isso é muito mais do que um refrão bonitinho para um cartão. E não é necessariamente um elogio.