Quem pensava que
pilantragem era exclusividade da classe política enganou-se (que novidade...).
Óbvio que qualquer categoria tem seus mocinhos e seus bandidos. Os
médicos que usavam dedos de silicone para fraudar o ponto eletrônico
são um bom exemplo disso. E não são só eles. O coordenador do
Samu, acusado de organizar o esquema, tenta tirar o cu da reta, mas
os dedos apontam para ele.
Isso sempre me faz
pensar sobre a fragilidade do sistema e as tentativas que se faz para
torná-lo perfeito – mas ele nunca o será. Mesmo que se implante
um chip no cu das pessoas, sempre haverá um jeitinho, alguém sempre
estará disposto a driblar as normas e alguns vão conseguir. Se
formos escavar esses casos até o fundo, a conclusão será sempre a
mesma: lucro. Por que ficar sentado no plantão se eu posso estar lá
e no meu consultório ao mesmo tempo? Mas ninguém vai assumir que o
objetivo era esse. Coordenador vai dizer que não sabia de nada, a
médica que “passava os dedos” dirá que foi ordem do coordenador
e os médicos poderão alegar que foram vítimas de um
boa-noite-Cinderela e tiveram seus dedos clonados por marcianos numa
noite de sábado. Desafiando a física, esses médicos estavam em
dois lugares ao mesmo tempo, recebendo, obviamente, dois ordenados.
Desafiando o bom senso, muitos dos que se mostram indignados com o
caso fazem igual ou pior. É que o que os dedos não apontam o
coração não sente.
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Dedos são coisas que
possuem uma simbologia muito profunda. Eles são muitos, e são
relativamente longos. Além disso (e por isso) é possível enfiá-los
nos lugares mais improváveis, em expedições exploratórias de
tirar o fôlego. Dedos são partes do corpo tão importantes que é
neles que colocamos alianças de compromisso e é neles que o Papa
coloca um dos maiores símbolos do poder da Igreja, o Anel do
Pescador.
Mas desta vez o anel
não será de ouro maciço. O Vaticano já anunciou que o anel será
feito de prata receberá uma cobertura de ouro. Parece que o ouro
representa o divino e a prata o humano, ou coisa assim. Mas o que
deixou muita gente entusiasmada é a possibilidade de a Igreja dar
uma guinada histórica e colocar-se numa posição um pouco mais
condizente com a realidade do século XXI. Também apontam para essa
possibilidade o nome do Papa
(que remete a São Francisco de Assis), as frequentes quebras de
protocolo (que fazem o Papa parecer mais humano e menos divino), sua
ligação com a América Latina e com os jesuítas entre outras
coisas. Enfim, até o fato de Sua Santidade ter recebido a multidão
de braços abertos ou fechados é motivo para os “especialistas”
tirarem conclusões esperançosas. Mas, parafraseando São Lula (o
santo dos nove dedos), o Vaticano também é um navio enorme (e muito
antigo), e qualquer manobra muito brusca pode naufragá-lo. É bem
por aí.
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(Um
pouco de cultura (quase) inútil
Il
Camerlengo é o responsável pelas finanças do Vaticano, dentre
outras coisas. Ele conhece o subsolo da Santa Sé melhor que o
próprio Papa, e é o responsável pela retirada do Anel do Pescador
do dedo do papa morto (ou que renunciou) e destruí-lo (o anel) para
que ninguém seja papa antes do conclave. Ele é uma figura mais ou
menos como o mordomo dos livros de suspense. Se registrarem o ponto
com dedos de silicone lá no Vaticano, desconfie do camerlengo. Se
assassinarem o Papa, então...)
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Os
dedos – seus usos e desusos na infância
Quando
éramos crianças e apontávamos os dedos para as estrelas,
ganhávamos verrugas. Talvez essa crença tenha origem na necessidade
de amputarmos de nossas crianças a curiosidade. Desconfio que se
elas permanecessem muito tempo observando o céu noturno,
invariavelmente sua curiosidade seria aguçada e seu senso crítico
daria os primeiros e preciosos passos. Se permitíssemos que elas
crescessem perguntado sobre as estrelas (aqueles pontos inúteis no
céu) logo elas estariam questionando nossas tradições, atentando
contra a moral e os bons costumes e fazendo piadas com o Papa como se
ele fosse um qualquer. Portanto, crianças, se forem observar as
estrelas, aproveitem a tecnologia do século XXI e providenciem uns
dedos de silicone para contá-las de forma mais segura.
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Moral da história (mas ainda não estamos no fim)
A
moral da história é que esse lance dos dedos de silicone é uma
bela cutucada no cu do sistema. Claro que é imoral, antiético, blá,
blá, blá e etc. (ninguém precisa escrever isso em nenhum lugar
para as pessoas se darem conta disso). Mas, por outro lado, essa
situação reflete um aspecto importante de nossa sociedade: não
adianta tentar obrigar
as pessoas a fazer a coisa certa (ou o que quer que seja considerado
certo) porque o “certo”, queiramos ou não, ainda é o lucro a
qualquer custo. E enquanto esse conceito permear nossa sociedade
(eternamente, talvez) não haverá tecnologia que impeça fraudes. E,
como o sol nasce para todos, todos nós estamos sujeitos à tentação de se bronzear um pouco mais. Como alguém disse uma vez: onde existe uma situação
em que é possível sair lucrando, alguém vai descobri-la e vai
lucrar. Não importa se é aqui, em Brasília, na Etiópia ou no
Vaticano.
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Aproveitando
a deixa para dar uma surra de rastelo nas promessas da tecnologia
Você
lembra quando implantaram, na empresa onde você trabalha, o sistema
de ponto eletrônico por impressão digital, com a desculpa de que
assim seria impossível um colega registrar o ponto do outro? Pois é.
E a tecnologia falhou novamente. #CHUPASISTEMA
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Uma
alternativa eficaz
Contrariando
o que eu escrevi anteriormente, creio que talvez exista uma forma de
evitar fraudes nos pontos eletrônicos (pelo menos por homens). A
solução seria passar o pênis ao invés do dedo. Quando ouvi a
notícia sobre os dedos de silicone fiquei imaginando como seria o
processo de “clonar” os dedos. Provavelmente foi aplicada uma
forma de gesso (ou algo assim, note que sou leigo no assunto) e a
partir do molde foi fabricada uma cópia em silicone. Agora imagine
como seria o processo de copiar um pênis. E mais: imagine como seria
andar por aí com meia dúzia de pênis nos bolsos. E mais ainda:
imagine como seria pegar cada um deles e passar no ponto eletrônico,
sabendo que eles são idênticos aos pênis dos seus colegas de trabalho.
Certamente tais situações vexatórias inibiriam boa parte das
fraudes em pontos eletrônicos. Fica a dica.