quarta-feira, 28 de julho de 2010

Festiqueijo: vale cada centavo!

Para quem não conhece, o Festiqueijo é uma espécie de orgia alcoólica que acontece no salão paroquial de Carlos Barbosa todos os anos. É nossa festa maior, o maior festival gastronômico, etc, etc... Você puxa a carteira, saca uns cinquenta reais, pega o ingresso e entra. Depois você ganha uma tacinha para degustar vinhos (leia-se: encher a cara) e um garfinho para espetar os queijos (ou traseiro das meninas, conforme você estiver mais ou menos bêbado). Você passa o tempo inteiro circulando de estande em estande, enchendo o saco das meninas que estão trabalhando, rindo alto, degustando vinhos, queijos, salames e outras coisas estranhas que fariam o seu cardiologista chorar. Tudo isso ao som de música típica e rodeado de gente bonita e inteligente. 


Há quem ache o valor do ingresso um tanto amargo, mas se pararmos para pensar, onde poderíamos comer pastel, coxa de galinha e polenta frita (à maneira dos nossos ancestrais, de pé e sem o inconveniente dos talheres) por menos de cinquenta reais? E crostoli? Em que bar é possível encher o cu de trago pagando somente a entrada? Onde poderíamos ouvir a canção La bella polenta interpretada por quatorze bandas diferentes? Qual pizzaria da cidade oferece pizza de microondas por menos de cinquenta reais? Em que restaurante existe uma equipe de limpeza sorridente que vem correndo, pedindo desculpas e com-licenças para limpar a sujeira que alguém fez de propósito? E o melhor de tudo (para os solteiros): onde encontraríamos maior concentração de mulheres embriagadas por metro quadrado, prontinhas para serem encoxadas em meio a multidão?

Nosso festival é um verdadeiro banquete romano, onde a elite desfila sua glória e destila suas amarguras oriundas do incansável labor diário que enriquece e enobrece nossa gente. Nosso festival permite que nossa gastronomia seja apreciada em seu último estágio evolutivo, espalhada nas esquinas da cidade, porque ela é nobre demais para permanecer nos estômagos dos visitantes. Caminhe pelas calçadas e verá, a cada vinte metros, uma refeição que se recusou a sair de Carlos Barbosa. Nada pode ser mais gratificante para um cidadão do que o reconhecimento de sua gente e a valorização dos seus costumes!

É por esses e outros motivos que sou, sem dúvida alguma, um verdadeiro fã do Festiqueijo. No ano que vem podem cobrar R$ 200,00. Não é caro. Vale cada centavo. Em 2011 traga sua família, prepare seu tubo digestório e seu fígado, e venha viver momentos inesquecíveis!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Uma imagem vale mais que mil palavras...

 
Imagem: Jornal Contexto, 20/02/2010

Que fique claro: não estou acusando nenhum jornal e nenhum dos seus profissionais de atitude preconceituosa. Apenas estou utilizando a ilustração para fazer uma reflexão. Faço essa observação porque, como sabemos, não existe preconceito no Brasil.

Ocorre que, dia desses, li um artigo que falava sobre a enorme quantidade de peças publicitárias mostrando pessoas brancas num país que, segundo dados do IBGE, já é composto majoritariamente por negros e mestiços. Quando se fala em publicidade, entende-se que o público deve se identificar com as imagens, se eu não estiver enganado (que algum profissional da área me ilumine, ou não durmo essa noite). Enfim, o artigo falava das peças publicitárias, da esmagadora presença de brancos nas novelas da Rede Bobo (que são assistidas por uma maioria negra) e coisas assim. Ocorreu-me (deixando de lado as novelas) que na nossa região, negros e mestiços são, de fato, minoria. Somos predominantemente descendentes de imigrantes italianos, alemães, poloneses e blá, blá, blá (como nos vêm ensinando desde a terceira série). Portanto, nada mais lógico do que olhar para aqueles outdoors na 25 de setembro e deparar-se com a imagem da branquíssima modelo da propaganda de roupas íntimas e com a foto da bela equipe de atendentes das Lojas Lebes, cujos traços não deixam dúvidas: são barbosenses.

E a imagem do jornal? Simples: era preciso uma imagem para ilustrar a manchete, e o ilustrador é livre para desenhar o que quiser. Isso não quer dizer que ele seja preconceituoso (eu acho). Eu gosto de imaginar coisas: Talvez alguém tenha advertido, antes da publicação: "mas será que não terá algum xarope que vai achar racismo nisso aí?", e outro: "só se for um daqueles malucos que defendem as cotas nas universidades...", e mais outro: "má  che, má donde que questo é racismo, Madonna de Dio! Cuida que se tu desenhá um gringo ele vai te processá também há há, há, há...". E no fim, a imagem saiu, e mostra um negro, atrás das grades, aplicando um golpe pelo celular numa inocente mulher de olhos azuis.

Recentemente, uma professora iluminada disse que "ninguém é preconceituoso de propósito, porque ninguém é ignorante de propósito". Devemos ficar atentos, não para levantar o dedo e apontar: fulano é racista; mas para levantar a voz contra atitudes que paulatinamente vão construindo uma representação falsa da realidade. Atitudes que "criam" a própria realidade, o imaginário coletivo. Se as imagens não tivessem o poder de criar, na mente de quem as vê, determinada ideia ou conceito, toda forma de propaganda se resumiria em duas ou três palavras em Times New Roman, e não precisaríamos de outdoors imundos ou dos comerciais idiotas das Casas Bahia. Tampouco precisaríamos de ilustrações nas áginas dos jornais.

Sobre preconceito, Guacira Lopes Louro, no livro Um corpo estranho, diz que uma imagem pode não ser, necessariamente, preconceituosa; mas pode estar afiando as facas da intolerância. Hum... isso dá o que pensar.




segunda-feira, 12 de julho de 2010

Como parecer rico em Carlos Barbosa - dicas e truques

Depois de ler alguns parágrafos de alguns livros sobre "como atender bem os clientes" resolvi acreditar que também posso escrever um desses tratados e ficar rico. O público, claro, poderá preferir entender que se trata de uma brincadeira. Entretanto, reza a lenda que toda a brincadeira tem um fundo de seriedade. Não sei, mas segue um esboço do tratado. Ficaria mais ou menos assim:

Como parecer rico em Carlos Barbosa - dicas e truques:

Utilize o carro para absolutamente tudo o que for fazer fora de sua casa. Mesmo que o carro seja do seu pai, que o combustível seja pago pelo pai, assim como o seguro, o imposto e o DVD novinho que você acabou de instalar. Vá de carro, mesmo que seja para ir à padaria que está a vinte metros.

Quando for à padaria, nunca compre somente o pão. Saia do estabelecimento com, no mínimo três sacolas. E lembre-se de deixar algumas compras aparecendo por cima da sacola. Isso é chique. Jamais compre seus pãezinhos em estabelecimentos que forneçam sacolas feias.

Se não puder estacionar exatamente em frente à porta do estabelecimento, abandone o carro no meio da rua com o pisca-alerta ligado. Quanto mais caro for seu automóvel, maior o efeito produzido.

Jamais saia da vídeo-locadora com menos de oito filmes, mesmo que você só tenha tempo para assistir a um. Se houver uma fila razoável, lembre-se de pedir para a atendente um Godard. Mesmo que você não entenda porra nenhuma dos filmes dele, diga que você o ama.

Nos restaurantes, procure falar alto e gesticular bastante (certifique-se de não haver comida nos talheres antes de gesticular). Procure falar mal de quem está presente. Na hora de pagar a conta repita o valor anunciado de modo que todos saibam o quanto você gastou. Procure pagar com notas de cem ou cinquenta reais. Jamais saque da carteira notas de cinco ou dez reais (isso é coisa de boteco).

Evite que as pessoas o vejam comprando carteiras ou cintos daqueles vendedores ambulantes que vivem em frente à Santa Clara.

Economize uma grana durante o ano para ir ao Festiqueijo. Depois, fale mal do evento até não aguentar mais e, no ano seguinte, vá novamente.

Jamais viaje de ônibus (exceto se você for um aluno da UCS ou da Unissinos).

Assine a revista Veja e utilize os argumentos cientificamente comprovados da revista para falar mal do Lula. Somente do Lula. Se o presidente já for outra pessoa, continue falando mal do Lula.

Vá ao cabeleireiro toda a semana. Cabeleireiros que cobram menos do que R$ 25,00 para fazer qualquer coizinha são, na verdade, barbeiros. Barbeiro é coisa de velho pobre e aposentado. Evite.

Se você trabalha no escritório da Tramontina, lembre-se sempre de dar uma volta no Café Brasil depois do expediente, mas vá com aquela camisetinha azul-claro com a logomarca da empresa no peito (aquela que você está usando para trabalhar desde segunda-feira). Isso dá muito status, mesmo que você ganhe menos que muito peão da produção.

Lembre-se de ir ao café portando, além do uniforme, o crachá. Mas utilize-o pendurado no pescoço com uma fitinha azul. Prendê-lo no bolsinho da camisa com aquele prendedorzinho é coisa de plebeu.

Quando for às compras, leve consigo o seu filhinho e deixe-o colocar no carrinho tudo o que ele quiser. Se você não puder pagar, retire as coisas do carrinho sem que a criança perceba e abandone-as em qualquer prateleira.

Troque a cozinha de sua casa, no mínimo, a cada dois anos. E quando o fizer, coloque trocentas fotos da sua novíssima cozinha no Orkut.

Sorria sempre. Mesmo sem ter vontade. O sorriso forçado é até mais charmoso e mais fotogênico. Se você tiver que optar entre a cirurgia de hemorroidas e o clareamento dental, opte pelo segundo. Afinal, não passamos de um tubo digestivo com um cérebro numa extremidade e uma cueca na outra. Cuide melhor da extremidade que as pessoas veem e que comporta o cérebro.

Enfim, poderíamos escrever dúzias de páginas sobre cada item, sobretudo esse último (do tubo digestivo), por isso acho que poderíamos escrever um ótimo tratado. Umas duzentas páginas com gráficos e ilustrações. Seria um sucesso na feira do livro e no supermercado. Certamente iria contribuir para tornar as pessoas mais felizes.







quinta-feira, 8 de julho de 2010

Momento quase literário...

Tanto faz as foto-fatos nos jornais,
revistas, reality sows, fazendas e
Cabanas da vida...
No Mundo, um Crepúsculo são gritos histéricos
num cinema adolescente...
No Mundo, um Guerreiro da Luz liga um projetor...
E As Violetas continuam na Janela 
- Sentinelas